sexta-feira, 20 de junho de 2008

Cultura: Nova obra teatral adapta livro de Mutarelli

Ivoneth Merlin

Depois de ter seu romance de estréia, "O Cheiro do Ralo", levado às telas em março deste ano por Heitor Dhalia, o quadrinista Lourenço Mutarelli fecha 2007 vendo sua segunda incursão no gênero ganhar os palcos. Menos estilizado do que o filme estrelado por Selton Mello, mas com uma fauna de personagens lúgubres à altura deste, "O Natimorto" estréia dia 5 de Julho no Rio de Janeiro, no teatro dos Grandes Atores na Gávea.

No teatro, sai de cena o Lourenço obcecado pelo odor do banheiro e entra O Agente, fumante inveterado acossado pelas imagens impressas no verso dos maços ("São um prenúncio do dia") e pelos possíveis elos destas com as cartas do tarô. Quando sua nova cliente, A Voz (que não emite nenhum som ao abrir a boca), chega à cidade, ele lhe faz uma proposta radical: isolarem-se em um quarto de hotel para ficarem a salvo das vaias, críticas e tomates dos detratores. Na semi-clausura (ela sai eventualmente para tocar a carreira), surge uma relação de cumplicidade e dependência.

A transposição do livro para o palco foi iniciativa da atriz Maria Manoella, intérprete d'A Voz, que descobriu "O Natimorto" em 2005, um ano após o lançamento. "A estrutura é mais de peça do que de romance. O universo do Mutarelli, de solidão, confinamento, estranhamento e horror, me atrai bastante. É muito fácil filmar o horror, mas é raro vê-lo no teatro", diz.

Para Nilton Bicudo, que faz O Agente, a proposta de "discutir uma relação entre quatro paredes" foi o maior chamariz. "E também achei interessante o fato de o personagem querer assumir sua assexualidade [ele sublima a libido ao descobrir a infidelidade da mulher, vivida por Martha Nowill]. Isso tira da frente um monte de dor de cabeça. Com a banalização atual do sexo, é quase uma antevisão do futuro", afirma.

O dramaturgo Mário Bortolotto, que vê em Mutarelli "um louco genial", assina adaptação e direção. Do original, enxugou os monólogos d'O Agente ("senão ficaria com quase quatro horas"), mas preservou os diálogos. "Eles têm um ritmo que precisava ir para a cena", avalia.

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